*Beto lobo
Que a arte abstrata me aponte uma resposta,mesmo que ela mesma não saiba! E que ninguém atente complicar, pois é preciso simplicidade para fazer florescer. Porque metade de mim é platéia e a outra metade é canção. Que minha loucura seja perdoada porque a metade de mim é amor e a outra metade também! *Beto lobo
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Que a arte abstrata me aponte uma resposta,mesmo que ela mesma não saiba! E que ninguém atente complicar, pois é preciso simplicidade para fazer florescer. Porque metade de mim é platéia e a outra metade é canção. Que minha loucura seja perdoada porque a metade de mim é amor e a outra metade também! *Beto lobo
quarta-feira, 16 de dezembro de 2015
*Beto lobo
Qual é o significado de um quadro abstrato? Como interpretar
uma obra que parece não guardar nenhum vínculo com a realidade? Este livro
procura elucidar essa questão partindo do pressuposto de que a pintura é uma
linguagem artística, que espelha o homem e seu mundo. Assim como as expressões
verbais, os quadros constituem sentenças dotadas de sujeito e predicado. Mas,
diversamente das palavras, os signos pictóricos não se desdobram em uma
seqüência temporal, mas em uma ordem espacial: eles ocupam lugares no plano do
quadro _a figura e o fundo. Na imagem pictórica, a figura é o sujeito da
sentença, enquanto o fundo é o predicado. Essa distinção constitui a chave para
a compreensão da gramática da imagem. A pintura é uma linguagem analógica, na
qual a relação entre a figura e o fundo espelha a relação entre o homem e seu
mundo. As telas não falam sobre a realidade, mas a exibem diante de nós: a
pintura não é uma linguagem representativa, mas apresentativa. O que distingue a
pintura abstrata dos demais gêneros é a elipse do tema do quadro, a ocultação do
sujeito pictórico. Essa elipse não significa, porém, que a imagem tenha deixado
de expressar a realidade. Não existe uma descontinuidade absoluta entre o
abstracionismo e os estilos figurativos. A diferença entre eles reside no fato
de que o primeiro designa o seu objeto de modo indireto, enquanto a pintura
figurativa apresenta o real de modo direto. Na arte abstrata, a figura e o fundo
constituem metáforas do homem e do mundo. A metáfora é a estrutura semântica
desse gênero: ela revela aquilo que a elipse esconde. A pintura abstrata
constitui uma mimese do real, mas uma mimese que rejeita a realidade, um espelho
que nega o mundo. Mas por quê o pintor rejeita a realidade? Essa ruptura
estética entre o homem e o mundo se fundamenta na dissociação material entre
eles. O homem não reproduz a realidade no quadro porque ele foi privado da
realidade. Ele não suporta a visão do objeto porque ele foi despojado desse
objeto. Com efeito, o que define o capitalismo é a cisão entre o trabalhador e o
objeto trabalhado, entre o produtor e o objeto produzido. Tal ruptura constitui
a alienação: a coisa tornou-se algo externo ao homem, e por isso perdeu seu
significado para ele. Expropriado do objeto, o homem converteu-se em numa
subjetividade vazia: obrigado a vender sua força de trabalho para sobreviver, o
produtor foi levado a exercer um trabalho desprovido de sentido. Uma vez rompida
a unidade entre o o produtor e o produto, tanto o sujeito como o objeto foram
esvaziados, perderam a sua razão de ser. A alienação instaurada pelo capital
constitui o fundamento social da pintura abstrata. Este gênero constitui um
reflexo da alienação do homem sob o capital: a realidade vazia é o tema da
pintura abstrata. O seu significado consiste em espelhar um homem oco num mundo
vazio. A pintura deixa de ser figurativa e se torna abstrata porque o artista
rejeita esse mundo alienado, no qual os homens foram reduzidos a coisas. A
pintura abstrata não parece mimética porque ela se distancia radicalmente da
realidade, porque ela nega a realidade. Por quê a linguagem se afasta de sua
referência? Convém aqui observar um fato elementar: a linguagem é, antes de mais
nada, uma parte da realidade, um momento da totalidade social. Portanto, se a
pintura se afasta da realidade, é porque a realidade está se afastando de si
mesma. Mas uma realidade que se distancia de si mesma é uma realidade em
dissolução, uma totalidade em desagregação. A pintura abstrata não espelha um
objeto qualquer, mas um objeto que se dissolve. Ela emerge quando o modo de
produção capitalista começa a declinar, durante a transição do capitalismo
concorrencial para o monopolista, no início do século XX. O abstracionismo
constitui um retrato do capital em estado puro, mas precisamente por isso ele só
aparece quando essa formação social inicia sua decadência. Daí o silêncio
encerrado na arte abstrata: ela é o espelho de uma estrutura social que nada
mais tem a dizer. Além de explicitar os pressupostos históricos reguladores da
produção e do consumo da pintura abstrata, este livro pretende lançar as bases
de uma gramática geral da linguagem pictórica, capaz de fornecer critérios para
a análise de quadros que, à primeira vista, parecem completamente destituídos de
sentido.
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Que minha arte abstrata aponte uma resposta pra loucura desse mundo!!!
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